quinta-feira, julho 12, 2012

Um conto de Rock




Aos treze, ele ouvia no pequeno rádinho de pilha, "Sereníssima", vivia fazendo confusão com o tal cantor da banda. Aqueles mesmos três acordes que compunham e fazia parte de qualquer canção de uma banda de Rock de garagem, foi a sua iniciação.
Com o pai pela feira de terça, saia frenéticamente garimpando de banca em banca as fitinhas cassetes.
Queen, Ramones, Beatles, Raul, Legião,  e Ira. Chegava em casa, apertava o play. O volume no último, da cozinha a mãe gritava: - Abaixa esse rádio!
Abaixava só um pouquinho, deitado na cama ele olhava, olhava  para o teto e sonhava, sonhava com o dia em que pudesse caminhar e ir além da rua dez.
Esse dia chegou.
Caminhando sozinho, ao passar sobre o abacateiro, os pingos gelados de chuva caem sobre sua nuca, dobra a esquina e perto de casa os cães ladram incomodados com os miados dos gatos que brigam. Sobe a escada, pela fresta da porta antes de abri-lá vê uma luz. A chave emperra, dá umas batidas com a mão, entra.
Deitada no chão nua, o abaju ligado, garrafas de bebidas, o cinzeiro cheio de bitucas e um cigarro pela metade ainda aceso, do quarto a música soava baixinho, bateria, baixo, guitarra alta e numa voz roca e triste.
Olha e fica admirando à brancura daquela corpo vivo, seus pelos púbis, seus seios pequenos, e toda à sua pseudo inocência que emanava do seu lindo rosto iluminado pelo bico de luz.
Tenta acordá-la, é inútil. Sente receio em tocar nela, assim.... . É como sentir o amor nos braços pela primeira vez, foi o que ele sentiu e o fez. Colocou sobre a cama e à cobriu.
Um quarto e cozinha americana, ele dormia na sala, o quarto era pequeno cabia uma cama de solteiro e algumas tralhas, dividiam as despesas que era uma das condições imposta por ela. Era pertinho do centro e da janela se avistava a igreja da Consolação,  foi o mais longe de casa que conseguiu chegar.
O seu desejo era ir muito mais além, atravessar o atlântico, assim como Elvis e assim como o Rock décadas após décadas.
É começo de inverno, o relógio desperta, perdeu a hora para o trabalho, são quatorze e vinte e cinco da tarde de uma sexta-feira 13.
Levanta e vai até quarto dela, janela aberta, a cama vazia, sobre o banco apenas um bilhete:
"Nem te vi chegar, estou indo acampar com umas amigas numa Ilha onde vai rolar um festival de Blues, é uma pena que você tenha que trabalhar, pois você iria adorar. Bjs"
Amassa o bilhete, e aos bocejos coloca na vitrola um vinil do Bruce Springsteen. Os raios de sol assim como ele parecem cançados, e timidamente invadem a penumbra e com a música enchem de nostalgia ainda mais aquele lugar carente de amor e vida.


Josh


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